Filosofia de jogo x Técnico. O que queremos?
Começo o post, com uma brilhante dissertação de 1998, feita por LUCIANO VICTOR BARROS MALULY (FIAM/SP), intitulada de “O futebol-arte de Telê Santana no jornalismo esportivo de Armando Nogueira”:
“Durante o ano de 1993, Armando Nogueira deparou-se com dois acontecimentos que iriam marcar o cenário esportivo no Brasil – a participação do selecionado nacional na disputa das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos da América, e a conquista do Bicampeonato Mundial Interclubes pela equipe do São Paulo Futebol Clube, em Tóquio.
A Seleção brasileira de futebol mostrava um estilo de jogo voltado ao Futebol-força, em que se privilegiava a marcação e o vigor físico dos atletas, sem que a criatividade do jogador fosse observada.
O time nacional procurava manter o resultado a qualquer custo, com faltas e pouca ofensividade, negando ao público a condição de assistir um espetáculo de futebol, representado principalmente por gols e jogadas individuais e coletivas.
O São Paulo Futebol Clube apresentava um estilo relacionado ao Futebol-arte, em que o time buscava realçar o espetáculo a todo instante, explorando a técnica do jogador e do conjunto, mostrando um jogo cheio de gols e com poucas faltas.
Armando Nogueira analisou os fatos realçando um tema eixo baseado na relação entre o Futebol-arte e o Futebol-força no Brasil, ou seja, através da exaltação do jogo como espetáculo, pois se a equipe do São Paulo praticava o Futebol-arte (espetáculo) por que a seleção brasileira praticava o Futebol-força (resultado)?:
1º) O time do São Paulo respeitava a tradição brasileira do Futebol-arte, ao contrário da seleção brasileira;
2º) A estrutura do São Paulo Futebol Clube permitiu implantar junto à equipe um estilo voltado ao Futebol-arte, valorizando assim o espetáculo. Já a falta de planejamento dos dirigentes e da comissão técnica proporcionou um desequilíbrio na seleção nacional. A pressão para a obtenção do resultado ocasionou a implantação do Futebol-força;
3º) A equipe do São Paulo explorava a técnica do jogador e combatia o jogo violento, ao passoque a seleção brasileira praticava o antijogo pela necessidade do resultado.
Neste contexto, o trabalho de Armando Nogueira se formulou através de algumas premissas básicas que auxiliam na compreensão do tema eixo Futebol-arte/Futebol-força (Ver Ronaldo Helal. Passes e Impasses: Futebol e Cultura de Massa no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1997.):
- a) O futebol brasileiro é fundamentado pela doutrina do Futebol-arte, tendo o jogo como espetáculo, conduzido pela individualidade e habilidade de seus jogadores, e não pelo Futebol-força, jogo baseado apenas no resultado final da partida, sendo que o atleta talentoso cede lugar ao outro que dispõe somente de vigor físico e tem maior potencial para segurar o placar. No Brasil, o Futebol-força tem sido confundido com um futebol que prima pela violência, por causa da crescente tendência pela busca de resultados.
- b) A cobrança pelo resultado auxilia o Futebol-força e descaracteriza o Futebol-arte. O Futebol-força adquiriu espaço no país pela crescente valorização da busca de resultados, influenciada pelos altos investimentos de empresas patrocinadoras e mesmo de empresários, além de dirigentes interessados muito mais no mercado de jogadores que na valorização do futebol como espetáculo popular e de massa. Numa seleção ou clube, o resultado é conseqüência de um trabalho planejado e profissional. A organização do jogo como espetáculo permite aos jogadores e comissão técnica a plena liberdade para exercerem suas profissões.”
Pois bem! A seleção machucada pelas derrotas de 82 e 86 com o próprio Tele, começou a mudar, primeiro com Lazoroni em 90 e depois com Parreira em 94.
E o São Paulo ousou em apostar em Tele Santana! Não pelos seus números, mas sim pela sua filosofia de jogo, muito bem descrita por Armando Nogueira.
E agora vivemos uma “Gaúchanização” do futebol Brasileiro, com Dunga, Mano, Felipão, Dunga e agora Tite! Os defensores da Compactação!
Enfim, Parreira e Felipão ganharam a Copa do Mundo (com méritos), pois sabia que tinha Romário, Bebeto, Branco (Bola Parada), Rivaldo, Ronaldo Fenomeno, Ronaldinho Gaúcho, que precisavam de 3 ou 4 bolas para decidir uma partida. E por isso fecharam a casinha.
Mas, você sempre defendeu Bauza! Sim, pois ele tinha uma filosofia de jogo! Contrária ao que gosto, mas tinha bem claro isso em sua proposta!
E assim como Felipão e Parreira, fez o time jogar para 2 jogadores: Calleri e Ganso! Todo mundo corria e defendia, para Ganso e Calleri!
Mas, agora sem esses dois, é hora de mudar a filosofia de jogo! A hora é agora!
Se não temos meia, ok. E não adianta buscar na série B.
Então temos que mudar completamente a forma de jogar!
Se todos os times jogam compactados, e quem normalmente ganha o campeonato desde de Muricy é quem toma menos gols, é hora de ousar!
É hora de arriscar! Ao invés da Compactação, termos AMPLITUDE e PROFUNDIDADE!
Algo que o Barcelona faz: 3 ou 4 jogadores bem próximos (formando uma espécie de roda de bobinho, algo que Guardiola sempre treina em seus times, e que quem inventou foram os brasileiros), e o restante espaçados.
Quem já não viu Iniesta, Alba, Neymar e Brusquets próximos, e de repente algum deles, vira a bola para Dani Alves ou Messi?
Enfim, sei que não temos esses jogadores, mas é o conceito!
E é assim que o catalão Fernando Jubero, que trabalhou no Barcelona, monta seus times.
O futebol paraguaio sempre foi de força, de defesas compactas, e grandes defensores como Arce, Gamarra, Rivarola e Ayala.
E ele conseguiu com o modesto time do Guarany do Paraguai, bater o recorde de gols marcados no campeonato paraguaio, e levar esse time para semi-final da Libertadores, ganhando duas partidas do compacto time de Tite!
Usando o antídoto da compactação: Amplitude e Profundidade! Algo que vemos no Atlético Nacional de Rueda, com influencia de Juan Carlos Osorio.
Assim como o Chile, vem fazendo sucesso. Começou com Bielsa, chamado de El Loco e seu esquema 3-3-1-3! E continuou sendo usado por Sampaoli e Pizzi, conseguindo o Bi-Campeoanato da Copa América. Isso com Vargas de centroavante e Valdívia sendo esse “1” na primeira conquista!
E quem tem saudade de Vargas e Valdívia no Brasil “Gaúcho”?
Mas, o coletivo, a filosofia de jogo, esta acima das características individuais de cada um!
E no momento em que não temos mais Ganso e Calleri, e não conseguimos repor à altura, não adianta querer manter o mesmo estilo de Paton!
Temos que ousar! Fazer o coletivo, ser mais importante que o individual.
Afinal, não conseguimos manter bons jogadores aqui!